Uma limpeza de pele assertiva é fundamental para garantir a entrega de resultados clínicos eficazes em tratamentos estéticos faciais. A sua aplicabilidade abrange o manejo da acne e da rosácea, a preparação do tegumento para procedimentos em pacientes com melasma e a promoção do rejuvenescimento.
Porém, não basta dominar os recursos de tratamento; é preciso, também, compreender a fisiopatologia das afecções, os tipos de pele e as variáveis que envolvem a aplicação. Para te auxiliar na prática clínica, eu trago 6 passos da limpeza de pele que vão oferecer eficácia e segurança ao elencar esse procedimento.
1º passo: Higienização
O primeiro passo da limpeza de pele é a higienização. Aqui, é fundamental compreender os diferentes tipos de produtos disponíveis.
Há, primeiramente, os produtos tradicionais e os modernos, que apresentam pH muito alcalino, entre 9 e 10. Apesar de terem eficácia na higienização, o pH alcalino produz um “inchaço” do estrato córneo, que, por sua vez, traz reações adversas ao sistema tegumentar, podendo resultar em irritação, hiperemia ou quadros alérgicos. Portanto, não indica-se os produtos tradicionais e os modernos em procedimentos de limpeza de pele.
Além disso, na etapa da higienização, há os syndets e os combos, que têm pHs de 5.5 a 7, aproximando-se ao pH da pele. Na prática clínica, opta-se, convencionalmente, pelo syndet na forma líquida, uma vez que reduz a desnaturação proteica e permite a associação com ativos, potencializando a entrega de resultados.
Há, ainda, os limpadores especiais. Dentre eles, indica-se o leite quando nos remetemos a uma pele mais danificada ou sensibilizada. Os panos de limpeza também podem ser utilizados, e o demaquilante para remoção de maquiagem deve fazer parte do processo de higienização.
Por fim, a higienização pode contar com o uso de esfoliante. Trata-se de um procedimento que auxilia na remoção da camada córnea, principalmente em pacientes que têm uma pele com alto teor de queratina. Além disso, atua no reparo da hiperpigmentação, na retirada de células mortas, e pode ser bem-vindo em pacientes com a pele envelhecida. No entanto, o esfoliante não deve fazer parte de todos os planos de tratamento.
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2º passo: Pré-extração
Finalizada a higienização, elenca-se recursos que preparam a pele para o processo de extração. Existem três tipos de hidratantes: os oclusivos, os umectantes e os emolientes. Convencionalmente, utiliza-se apenas os últimos dois em procedimentos de limpeza de pele.
Os hidratantes umectantes penetram o estrato córneo e agem como esponjas biológicas. Aqui, estamos falando de atração e retenção de água na pele, podendo ser retirada da derme para a epiderme ou do ambiente quando a umidade atmosférica é maior que 80%.
Por outro lado, os hidratantes emolientes simulam as bicamadas intracelulares do estrato córneo, promovendo sensação de preenchimento entre os espaços no espaço entre os corneócitos. Além disso, fornecem lubrificação da pele, trazendo a sensação de suavidade e plasticidade. Dependendo do tipo de pele, é possível utilizar um emoliente junto com um umectante.
O pH desses produtos também é uma variável importante. Produtos mais alcalinos tendem a promover um “inchaço” do estrato córneo, o que facilita a abertura da barreira de proteção e, consequentemente, a extração. Porém, também são alergênicos, principalmente se o paciente tiver uma pele sensível.
Quando nos remetemos aos hidratantes, há, além disso, os ingredientes descritos como secundários, que são produtos/ingredientes que oferecem benefícios hidratantes e melhoram a atividade do grupo primário. Dentre eles, destacam-se a ceramida, a niacinamida, a vitamina C e a vitamina E, e os ingredientes botânicos, como a aveia.
Também existem diversos princípios ativos e tipos de veículo que devem ser plenamente compreendidos pelo profissional da Estética. No meu curso online “Técnicas Avançadas de Limpeza de Pele”, eu explico melhor quais são esses ativos e veículos e abordo, também, os seus efeitos fisiológicos e as indicações clínicas. Você pode acessar a página de inscrição clicando aqui.
Anestesia pré-extração
O processo de extração costuma causar desconforto nos pacientes. Para diminuir o quadro álgico, existem três anestésicos que trazem segurança e eficácia clínica.
- Anestésico tópico: Atua na bomba de sódio-potássio, impedindo o fluxo do sódio e a propagação do estímulo da dor pelas fibras nervosas. O anestésico mais comum é a lidocaína. É preciso tomar cuidado com os efeitos adversos: além de uma adequação sistêmica que pode acontecer, não pode-se trabalhar com anestésicos tópicos em áreas amplas, principalmente se a barreira cutânea está aberta, porque ocorrem reações como eritema, alteração na vascularização da pele, e dependendo do produto, edema.
- Crioterapia: O gelo promove analgesia por meio da diminuição da condução nervosa e neural, além de realizar a vasoconstrição, reduzindo a inflamação. Como contraindicações, cita-se pacientes com doença de Raynaud, pacientes com distúrbios vasoespásticos, pacientes com hipersensibilidade ao frio e pacientes com problemas de circulação local.
- Minivibradores: Esse recurso, por sua vez, atua de acordo com a teoria das comportas de dor. É preciso aplicar o minivibrador próximo ao local de extração.
3º passo: Extração
Nessa etapa, realiza-se a retirada de comedões, nódulos e cistos.
Existem métodos distintos para fazer a extração. Dentre eles, cito a extração a vácuo, com o uso de pinças, e a manual, por exemplo.
Na extração a vácuo, utiliza-se, convencionalmente, uma seringa de 3 mL cortada no ângulo de 20 a 30°, tornando o recurso mais ergonômico. Pesquisas recentes apontam que o uso da sucção para o tratamento da acne é capaz de fazer a retirada do quadro inflamatório com bactéria e com deposição de estrato córneo. Quando o sebo é extraído, diversas bactérias comensais e patogênicas que residem nessa unidade são retiradas da lesão.
4º passo: Eletroterapia
Os recursos de eletroterapia são bem-vindos em procedimentos de limpeza de pele como forma de potencializar a entrega de resultados. A escolha do recurso, deve se adequar ao tipo de pele do paciente e à afecção de tratamento.
Na prática clínica, sugiro três recursos: a fototerapia de baixa intensidade, a alta frequência e a microdermoabrasão.
Fototerapia de baixa intensidade
Por volta de 440 a 470 nm, a luz azul tem efeito bactericida via porfirinas. Portanto, quando aplicada com esse comprimento de onda, a fototerapia é eficaz no tratamento de acne. Em tratamento de rosácea, a luz azul atua como moduladora de KLK.
A fototerapia aplicada por volta de 600 nm tem efeito anti-inflamatório e regenerativo. O recurso ainda inibe a síntese de melanina via tirosinase, tornando-se eficaz no tratamento de melasma. Em protocolos de cicatrizes hipotróficas de acne e de rejuvenescimento, a luz vermelha é capaz de aumentar a proliferação de fibroblastos e a produção de colágeno. Além disso, os efeitos anti-inflamatórios também trazem eficácia no tratamento de rosácea e de acne inflamatória.
Alta frequência
A alta frequência tem maior eficácia em tratamentos de acne.
Basicamente, a bactéria da acne se prolifera e sobrevive em ambientes anaeróbicos. Na alta frequência, há uma corrente elétrica que passa dentro de um eletrodo. Essa corrente elétrica gera um gás, o ozônio (O3).
Com base nisso, ao gerar o ozônio, fornece-se oxigênio para o ambiente da acne, removendo o habitat natural dessa proliferação bacteriana.
Microdermoabrasão
A microdermoabrasão é indicada em peles resistentes, com hiperqueratinização associada ao melasma, e quando busca-se melhora da textura da pele. O objetivo do recurso é remover o excesso de estrato córneo que, às vezes, prejudica a aparência e também pode diminuir a permeação transdérmica de ativos.
Na limpeza de pele, não busca-se gerar inflamação e produzir colágeno. Para isso, é indicado não ultrapassar -200 mmHg, e são aplicadas de 1 a 2 passadas, dependendo da resistência da pele.
5º passo: Cosméticos
O próximo passo da limpeza de pele refere-se ao uso de cosméticos.
Os ativos escolhidos devem se pautar no tipo de pele do paciente e na afecção de tratamento. Cito, como exemplos, a niacinamida, que é inibidora da produção de glândula sebácea e atua em casos de acne, e os fatores de crescimento, que promovem a regeneração da pele.
Essa etapa é crucial na prática clínica, porque, aqui, a pele está mais exposta e suscetível a efeitos adversos. Portanto, deve-se evitar cosméticos com aditivos de cor e odor, uma vez que o seu caráter alergênico já é bem elucidado na literatura científica.
6º passo: Home care
Os cuidados em home care têm a capacidade de potencializar os resultados da limpeza de pele e, além disso, fazer o preparo da pele para a próxima sessão.
Os nutricosméticos e os cosméticos elencados nessa etapa devem se adequar às características da pele do paciente e ao objetivo de tratamento. Em peles com melasma, por exemplo, pode-se elencar o ácido tranexâmico, que tem efeito despigmentante. Em casos de acne, sugere-se um sabonete com gluconolactona e um ácido salicílico. Para rejuvenescimento, a vitamina C é um excelente antioxidante.
Dominar os passos do procedimento de limpeza de pele é fundamental para garantir a entrega de bons resultados clínicos em tratamentos faciais.
Portanto, o profissional deve olhar para o paciente como um todo, compreendendo desde a avaliação clínica até os recursos de eletroterapia, de cosmetologia e de nutricosméticos, além das técnicas de extração e do home care.
Um plano de tratamento personalizado garante eficácia e segurança na prática estética.