A acne afeta cerca de 80% da população mundial em algum estágio, com efeitos negativos na qualidade de vida e autoestima dos pacientes. Considerando a sua alta incidência e o seu impacto significativo, profissionais que atuam na estética facial devem dominar o manejo da afecção.
Pensando nisso, os ativos cosméticos, quando utilizados separadamente ou em associação aos recursos de eletroterapia, têm a capacidade de atuar em todas as vias de tratamento da acne. Portanto, trata-se de um dos principais recursos elencados na prática clínica. Confira, no texto de hoje, alguns insights sobre cosmetologia.
Fisiopatologia da acne
A acne é uma alteração de pele que afeta os folículos pilossebáceos e possui causa complexa, desenvolvendo-se a partir da interação de diversos fatores. Primeiramente, há um aumento na produção de sebo. Depois, a queratinização é alterada, o que faz com que as células da pele se acumulem e obstruam os folículos, formando os comedões (cravos).
Então, a bactéria Propionibacterium acnes, que já vive na pele, consegue se multiplicar em excesso. Por fim, o corpo responde a essa proliferação bacteriana com processos inflamatórios, que causam as lesões características da acne.
Classificação da acne
Classifica-se o grau da acne, em suma, com base na gravidade das lesões de pele, com base em uma pontuação que varia de I a IV.
I – apenas comedões, sem lesões inflamatórias
II – comedões, pápulas e pústulas presentes
III – presença de comedões, pústulas e cistos
IV – presença de comedões, pústulas e lesões císticas maiores
Cosmetologia no tratamento de acne
Quando elencados de forma isolada ou em combinação, os ativos cosméticos são capazes de atuar nas diferentes vias do tratamento de acne.
Ácido glicólico
O ácido glicólico tem a capacidade de causar uma leve esfoliação da pele, reduzindo as pústulas que afetam os folículos. Além disso, o ativo evita o acúmulo excessivo de queratina, prevenindo a obstrução dos poros.
Em cicatrizes de acne, o ácido glicólico aumenta a produção de ácido hialurônico e colágeno na derme. Portanto, são indicadas concentrações de 10 a 30% em sessões quinzenais de 3 a 5 minutos.
Concentrações: Para gerar um peeling superficial, é possível utilizar o ativo em concentrações de 10 a 30%. Elevando o pH da formulação para 3,5 a 4,5, por exemplo, a sua penetração se torna mais lenta, aumentando o tempo de exposição na pele.
Ácido azelaico
O ácido azelaico age como um comedolítico suave e um anti-inflamatório leve. Tem, ademais, uma ação indireta na diminuição da população de P. acnes, a bactéria associada à acne. Essas propriedades tornam o ativo uma boa opção para tratar tanto a acne inflamatória quanto a não inflamatória.
Concentrações: Estudos sugerem concentrações de 15% a 20%, geralmente em formulações em gel. Há, ainda, a opção de usar a substância em espuma a 15% para aplicação diária em casa.

Ácido mandélico
O ácido mandélico age na acne por meio da sua característica lipofílica, que o ajuda a controlar a produção de sebo, regulando a função das glândulas sebáceas. Além disso, age como um esfoliante químico, diminuindo a coesão entre as células mortas da pele e promovendo a renovação celular, o que previne a hiperqueratinização folicular.
Por fim, o ácido mandélico tem uma ação bactericida e antisséptica.
Concentrações: Sugere-se, por exemplo, concentrações que variam entre 20% e 50%. Se em gel ou creme de 10%, é indicado como renovador celular. Se em creme de 4%, seu uso é como hidratante e/ou esfoliante suave.
Ácido retinoico na acne
O ativo tem uma ação comedolítica comprovada. Como atua acelerando a renovação das células da camada basal da pele, o ácido retinoico é, em suma, considerado especialmente eficaz no tratamento da acne comedogênica.
Além disso, esse ativo ajuda a reduzir a produção de sebo.
Concentrações: Em casa, é usado em concentrações de 0,025% a 0,1%, podendo causar irritação local na pele, vermelhidão e descamação. Em cabine, as concentrações variam de 5% a 10%; as de 5% e 8% são usadas para peelings químicos superficiais, enquanto a de 10% é para peelings médios. Os veículos mais comuns para o ácido retinoico são a solução hidroalcoólica, emulsão, gel e creme.
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Ácido salicílico
O ácido salicílico age como um agente queratolítico e sebostático. Ademais, diminui a adesão das células mortas da pele, o que desobstrui os poros e acelera a renovação celular.
Sua ação antisséptica ajuda a controlar a oleosidade e as manifestações da acne, e as suas propriedades lipofílicas, queratolíticas, bactericidas e anti-inflamatórias diminuem a produção de sebo, previnem a obstrução dos folículos, combatem a proliferação de bactérias e reduzem, por fim, a inflamação da pele acneica.
Concentrações: Em cabine, o ativo deve ser aplicado em concentrações que variam de 14% a 30%. Como cuidados domiciliares, na forma de sabonetes líquidos ou formulações dermocosméticas, por exemplo, sua utilização será em concentrações de 1% a 8%.
Ácido pirúvico na acne
O ácido pirúvico regula a produção de sebo, diminuindo o excesso de óleo das glândulas sebáceas. Além disso, sua ação queratolítica afina a pele e reduz o acúmulo de queratina nos folículos, o que ajuda a prevenir a obstrução dos poros.
Concentrações: 40% a 50%, dissolvido em etanol ou em solução hidroalcoólica.
Niacinamida
A aplicação tópica de nicotinamida a 2% demonstra reduzir a produção de sebo e ter um efeito bacteriostático na bactéria P. acnes.
Seus efeitos anti-inflamatórios são alcançados através da inibição da quimiotaxia de leucócitos e da diminuição da secreção da interleucina-8, que é, em suma, uma citocina liberada pelas células da pele em resposta a patógenos como a P. acnes.
Concentrações: 2% a 5%.
Óleo de melaleuca
Esse ativo tem uma ampla atividade antimicrobiana, além de efeitos antifúngicos, antissépticos, cicatrizantes, bactericidas e antivirais.
Concentrações: Em géis antiacne, a concentração é de 2% a 5%. O pH de estabilidade é entre 4,0 a 9,0.
Alfa-bisabolol
A ação antifúngica do ativo se dá pela inibição da biossíntese do ergosterol, um componente essencial da membrana dos fungos, sem ser tóxico. Além disso, ele possui propriedades antimicrobianas e bactericidas, e atua como calmante, cicatrizante, analgésico e antiespasmódico por inibir as citocinas pró-inflamatórias.
Concentrações: 0,1% a 0,5%.
Hamamelis na acne
A hamamelis apresenta formulação suave, ideal para peles sensíveis. Os taninos presentes nela têm uma importante ação antioxidante e adstringente, promovendo, assim, a constrição dos vasos sanguíneos e dos poros.
Além disso, ela possui um grande efeito anti-inflamatório. Suas propriedades são potencializadas pelos flavonoides, procianidinas e resinas também encontrados na planta.
Concentrações: Em loções tônicas e pós-barba, géis, cremes e loções para pele oleosas: 5% a 10% de extrato glicólico, por exemplo.