Não há dúvidas de que as mudanças na sociedade culminaram em uma grande transformação na percepção que os indivíduos têm sobre o próprio corpo. 

Apesar de ainda haver setores conservadores, é fato que, especialmente entre os jovens e nos países desenvolvidos, o autoconhecimento e a liberdade de escolha se manifestam também pela projeção corporal.

Nesse cenário, a Estética Íntima desponta. É por isso que hoje eu vou falar sobre esse assunto, que aliás, é tema do mais recente lançamento do Editora Estética Experts: o livro Fundamentos da Estética Íntima, da Dra. Shanna Bitencourt. 

Atraso histórico: Entenda porque as suas pacientes têm vergonha de falar sobre Estética Íntima

No contexto de revoluções comportamentais da humanidade, um dos tabus mais resistentes refere-se à região genital. 

Por muito tempo, qualquer tema relacionado aos órgãos genitais era logo associado à ideia de pecado ou imoralidade, o que resultou não apenas em constrangimentos pessoais desnecessários, como também em um atraso científico significativo.

Ao analisarmos a evolução da Medicina, podemos verificar que o desenvolvimento de uma área destinada exclusivamente ao tratamento da sexualidade feminina — a Ginecologia — esbarrava nas consideradas questões de “honra da família”. 

O segredo médico-paciente, a aplicação de anestesia e o próprio exame ginecológico causaram debates polêmicos no século XIX, por serem vistos como uma afronta à autoridade de pais e maridos, os “chefes” da casa.  

Em alguns locais, essa visão retrógrada ainda impera e interfere diretamente na saúde pública. 

Segundo a UNICEF, cerca de 200 milhões de meninas e mulheres já foram vítimas de mutilação genital em 30 países, com maiores concentrações no Egito, Indonésia e Etiópia. Além de privar a mulher do prazer sexual, essa prática violenta pode levar à morte. 

Mas, enquanto o Oriente vive o repúdio à sexualidade, em outras partes do mundo a maior exposição do corpo reflete sobretudo em produções culturais e artísticas, inspirando novos ideais em relação à autoimagem genital.

Ao mesmo tempo, o rápido acesso à informação desperta o interesse em procedimentos que possam melhorar a autoestima e corrigir questões funcionais.

Obra Great Wall of Vagina, do artista inglês Jamie McCartney

Impacto da insatisfação estética da genitália sobre a qualidade de vida

Sabemos que não existe um padrão considerado ideal no que se refere à anatomia genital externa. Especialmente no caso das mulheres, o formato, tamanho e textura da genitália externa variam de acordo com etnia, peso, estado hormonal, idade, etc. 

Porém, o crescimento da indústria de filmes adultos e determinadas mudanças culturais, como eliminação total dos pelos pubianos, tornam essa parte do corpo mais visível, abrindo espaço para comparações anatômicas. Consequentemente, surgem descontentamentos em relação à genitália.

No caso dos homens, a principal queixa se dá em relação ao tamanho do pênis, condição que, historicamente, integra o senso comum como sinônimo de virilidade. 

Tanto para eles quanto para elas, essa insatisfação pode gerar insegurança e angústia, com impacto direto sobre o desempenho sexual.

O resultado disso é um mercado de cirurgias plásticas íntimas aquecido. Antes de apresentar os números que comprovam essa afirmação, considero importante registrar aqui o conceito de saúde sexual, segundo a ONU:

“A saúde sexual possibilita experimentar uma vida sexual informada, agradável e segura, baseada na autoestima […] A saúde sexual valoriza a vida, as relações pessoais e a expressão da identidade própria de cada pessoa, estimula o prazer e respeita a autonomia da pessoa”. 

Rejuvenescimento íntimo em alta

De acordo com dados da Pesquisa Estética Global de 2018, o Brasil é o segundo no ranking de cirurgias estéticas. O destaque do levantamento são os procedimentos de rejuvenescimento vaginal, que registraram crescimento de 23% de 2016 a 2017.

E em 2015, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mais de 12,8 mil mulheres se submeteram à labioplastia, procedimento que corrige a hipertrofia dos pequenos lábios. 

Tamanho e flacidez, as principais queixas de homens e mulheres sobre a região genital

A pele genital é submetida aos mesmos impactos do tempo que as demais áreas do corpo. Porém, o calor, a umidade e a oclusão podem interferir na aparência da genitália. 

No caso das mulheres, quase 30% do colágeno cutâneo é perdido nos primeiros cinco anos após a menopausa. Além disso, a queda na produção de estrogênio resulta na fragmentação das fibras de elastina.

A perda de elasticidade, ao que tudo indica, é a principal causa de enrugamento e flacidez cutânea genital. A tração excessiva, causada pela depilação com cera, por exemplo, é outro fator relevante (que também pode resultar na hiperpigmentação).

Entre os homens, a grande questão — relativa ao tamanho do pênis — pode sofrer influência do ganho ou perda repentina de peso. A cada 13,5 kg adquiridos, perde-se 1,5 cm do comprimento do pênis, em função do efeito da gravidade sobre o corpo, que deixa o órgão cada vez mais escondido. 

Por que a Estética Íntima é um dos nichos mais promissores da atualidade

Se pensarmos nas implicações de uma cirurgia, é muito fácil identificar as vantagens dos procedimentos estéticos: recuperação rápida, custos inferiores, riscos de infecções muito menores e por aí vai.

Embora a Estética Íntima seja um segmento ainda recente, é possível aplicar algumas lógicas do raciocínio clínico no momento de definir as condutas terapêuticas.

Um deles é que, pela composição da pele genital, o mais coerente é nos basearmos em evidências científicas que abordem tratamentos em regiões de formação semelhante, nos valendo dos recursos já empregados no rejuvenescimento de mãos, pescoço e face, por exemplo.

Esse é um insight (assim como outros deste artigo) presente no livro que eu considero a mais completa referência científica sobre essa subárea atualmente: Fundamentos da Estética Íntima, escrito pela Dra. Shanna Bitencourt. Há anos, ela dedica seus estudos e trabalho a essa região do corpo.

Evidências científicas e protocolos em Estética Íntima

Na condição de prefaciador da obra e amigo da autora, tomo a liberdade de reproduzir aqui dois dos muitos protocolos que a Dra. Shanna reúne em seu livro. 

Radiofrequência não-invasiva no tratamento de flacidez tissular na região genital feminina

A radiofrequência é a técnica mais analisada em estudos científicos sobre Estética Íntima até hoje, sendo seu uso para tratar flacidez de corpo e face já consolidado.

Destaca-se por sua capacidade de reduzir gordura subcutânea, com aquecimento seletivo dos adipócitos, induzindo a apoptose, mas preservando tecidos adjacentes e a melanina epidérmica. 

Um dos primeiros estudos a mostrar o uso da RF não-invasiva no tratamento de flacidez de pele na região genital feminina foi comandado por Lordêlo e col. (2014).

Um grupo de 9 mulheres com idades entre 18 e 55 anos e com queixas de flacidez em lábios externos participou da pesquisa.

Os resultados foram não apenas melhoras estéticas, como também funcionais, segundo as participantes relataram e profissionais da Saúde confirmaram em avaliação cega. 

Preenchedores e biostimuladores na região genital masculina

O uso de PLLA para a volumização peniana foi estudado por Yang e col. (2017). Homens entre 20 e 65 anos participaram da pesquisa, que analisou a eficácia e segurança do procedimento e satisfação dos participantes até 18 meses depois da aplicação.

Foram de 4 a 6 sessões, com aplicação entre a fáscia dartos e a fáscia de Buck, com a técnica de leque em movimentos contínuos de vai e vem. Não houve injeção na parte ventral para evitar compressão ou lesão na uretra.

Os resultados foram aumento da circunferência peniana de pelo menos 1,2 cm. Os participantes ficaram satisfeitos com os resultados durante os 18 meses de estudo. Não houve relatos de efeitos adversos importantes.

Raciocínio clínico, sempre!

O raciocínio clínico, como eu sempre digo, é a principal base do trabalho de um profissional da Estética comprometido com a saúde dos pacientes. 

Mas, em uma subárea ainda tão pouco explorada e tão delicada — em termos físicos e psicológicos —, como é a Estética Íntima, esse parece ser o único caminho.

Sobretudo no Brasil, sabemos que não há mais volta. É apenas uma questão de tempo até a demanda em clínicas estéticas atingir volumes similares à demanda por cirurgias plásticas íntimas. 

O desafio agora é darmos continuidade à construção de um saber científico sólido e específico. E aqui entra outra prática que da nossa profissão que eu gosto muito: a troca de conhecimento. 

Abraço,
Dr. João Tassinary.

 

REFERÊNCIAS

https://nacoesunidas.org/onu-pede-eliminacao-de-pratica-violenta-da-mutilacao-genital-feminina-ate-2030/

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832002000100006  

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexual_reprodutiva_homens_cuidado.pdf 

https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2018/11/2017-Global-Survey-Press-Release-br.pdf 

http://www2.cirurgiaplastica.org.br/2016/12/26/de-cara-nova-9-tratamentos-para-melhorar-a-aparencia-da-regiao-intima/ 

 

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