Nem sempre as afecções surgem de forma isolada, e, por isso, é comum que o paciente chegue na clínica com queixa não só de melasma, mas de outras alterações estéticas, também. 

Sabendo disso, é tarefa do profissional que busca trabalhar em alta performance compreender as diferentes fisiopatologias e definir um plano de tratamento capaz de tratá-las de modo associado. Por esse motivo, no texto de hoje, eu trago afecções faciais que podem surgir com o melasma e uma das condutas terapêuticas que considero mais eficazes para tratá-las: o peeling químico.

Fisiopatologia do melasma

Primeiramente, precisamos entender o surgimento do melasma. De modo geral, o processo de melanogênese – em que o melanócito transfere a melanina para o queratinócito – define o aparecimento desse tipo de hiperpigmentação cutânea, cujo tratamento passa por três fases: antes, durante e depois da síntese de melanina. 

A ativação deste processo decorre de fatores como genética, exposição à radiação ultravioleta, distúrbios hormonais e influência medicamentosa.

Acne + Melasma

A fisiopatologia da acne conta com quatro processos bem descritos pela literatura científica: (I) aumento da produção de sebo; (II) alteração nos processos de queratinização; (III) colonização do folículo pilossebáceo por Propionibacterium acnes; e (IV) mediação dos processos inflamatórios. 

Niacinamida

No melasma, este ativo tem a capacidade de inibir a transferência de melanina para o queratinócito, atuando na terceira via da melanogênese. Na acne, a niacinamida tem eficácia no controle da produção de sebo.

Ácido glicólico

Esta substância apresenta interferência direta no processo de transferência da melanina para as diferentes camadas da pele, o que justifica a sua eficácia em tratar hiperpigmentações cutâneas. Para tratamento de acne, o seu efeito está relacionado à diminuição da hiperqueratinização folicular.

Ácido salicílico

O ácido salicílico promove alguns efeitos importantes em peles acneicas: diminui a produção sebácea, a hiperqueratinização dos ductos pilossebáceos, a proliferação bacteriana e o processo inflamatório. Por sua ação queratolítica, esse ativo remove a camada mais superficial da pele, o que o torna uma excelente opção para tratar melasma.

Envelhecimento cutâneo + Melasma

O processo de envelhecimento cutâneo envolve duas vias. A intrínseca se refere às mudanças decorrentes de fatores fisiológicos que surgem com o passar do tempo, sendo elas moduladas pela hereditariedade. Por outro lado, o envelhecimento extrínseco é causado por fatores ambientais como exposição à radiação UV e a poluição.

Para tratar uma pele com melasma e sinais de envelhecimento, elencar antioxidantes é a melhor alternativa. 

LEITURA COMPLEMENTAR: Treatment of melasma: a review of less commonly used antioxidants

Vitamina C (ácido ascórbico)

A eficácia da vitamina C no melasma deriva da sua ação clareadora ao inibir a enzima tirosinase, formadora da melanina. Para promover o rejuvenescimento, este ativo atua como neutralizador de espécies reativas de oxigênio e estimulador da síntese de fibras de colágeno e elastina, promovendo firmeza da pele.

Resveratrol

De acordo com pesquisas, o resveratrol afeta a regulação da função pós-transicional de genes melanogênicos e inibe a expressão de mRNA da tirosinase. Além disso, em cobaia estimulada por ultravioleta B in vivo, demonstrou-se que o ativo reduz a hiperpigmentação sobre a pele e inibe a síntese de melanina. Por isso, o resveratrol pode ser usado com segurança no tratamento de melasma.

No envelhecimento cutâneo, os principais efeitos se devem às propriedades antioxidantes, antiproliferativas e fotoprotetoras do ativo.

Ácido retinoico

O ácido retinoico provoca a destruição controlada das camadas superficiais da pele. Assim, em pacientes com melasma, obtém-se melhora nas alterações de pigmentação ao reduzir a quantidade de melanina depositada, apresentando ação despigmentante.

Para rejuvenescer o tegumento, o ativo age sobre as melanoproteinases, enzimas que degradam o colágeno e a elastina da pele. Além disso, o ácido retinoico incrementa a síntese de colágeno e aumenta a espessura epidérmica, suavizando rugas e linhas de expressão.

Rosácea + Melasma

A fisiopatologia da rosácea é complexa. Porém, sabe-se que o surgimento tem relação com predisposição genética, e que a sintomatologia é influenciada, em muitos casos, por gatilhos, como radiação ultravioleta, calor e alimentos picantes. Além disso, identifica-se a relação de um ácaro chamado Demodex folliculorum e de uma bactéria denominada Bacillus oleronius nesta afecção estética. 

Assim, o uso de ativos também é eficaz no tratamento de rosácea. Dentre eles, merecem ênfase o ácido azelaico e a niacinamida.

Ácido azelaico

As propriedades anti-inflamatórias e a capacidade de reduzir espécies reativas de oxigênio tornam este ativo uma boa opção para atuar na rosácea. 

No melasma, o ácido azelaico é capaz de inibir a tirosinase e interferir na síntese de melanina; sendo assim, lesiona estruturalmente os melanócitos normais. Cabe destacar que o ativo é um excelente substituto da hidroquinona, a qual pode ter efeitos colaterais como descamação, eritema e danos permanentes na pigmentação da pele.

LEIA TAMBÉM: Hidroquinona ou azelaico: qual usar em tratamentos estéticos?

Niacinamida

Identificou-se, em estudo piloto, que um metabólito da niacinamida (1-metilnicotinamida), quando aplicado duas vezes ao dia e por quatro semanas, melhora significativamente o quadro clínico da rosácea. Ainda, a qualidade da pele no que diz respeito à hidratação e à barreira cutânea também foram elucidados. 

Conforme mencionado anteriormente, este ativo inibe a transferência de melanossomas dos melanócitos para os queratinócitos. Por isso, a niacinamida apresenta efeitos promissores no melasma.

Conclusão

A presença de mais de uma afecção estética é recorrente. Quando tratamos de melasma associado a outras alterações estéticas, o uso de peeling químico é uma forma segura e eficaz de realizar o tratamento.

Frente a isso, cabe ao profissional compreender as fisiopatologias que compõem o quadro clínico e os efeitos que cada ativo promove no organismo humano para definir doses e demais parâmetros de aplicação. 

Raciocinando clinicamente e aderindo às evidências científicas, tem-se a possibilidade de tratar as afecções de forma associada e entregar os melhores resultados aos nossos pacientes.

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