A chegada do verão traz um aumento significativo na busca por tratamentos estéticos corporais. Dentre as queixas mais recorrentes nas clínicas, a celulite, sem dúvida alguma, merece destaque.
Pensando nisso, separei três pontos que devem ser dominados para garantir a entrega de resultados eficazes nessa afecção: (1) surgimento, (2) avaliação e (3) plano de tratamento.
Afinal, por que surge a celulite?
Temos, na literatura científica, três principais teorias que buscam explicar o motivo pelo qual a celulite surge: arquitetura subcutânea do tecido conjuntivo, alterações vasculares e inflamação reincidente.
Arquitetura subcutânea do tecido conjuntivo
Trata-se da teoria que explica o motivo pelo qual 90% das mulheres apresentam celulite em alguma fase da vida, enquanto essa incidência cai para 0,2% em homens.
De modo geral, o tecido conjuntivo do organismo feminino se dispõe radialmente ou perpendicular à superfície da pele, resultando em compartimentos retangulares que, aliados à alteração de pressão a que os adipócitos são submetidos na puberdade, levam as câmaras de gorduras celulares e as papilas adiposas a mudarem de formato. O volume, porém, não é alterado.
Logo, ocorre a extrusão das papilas na interface derme-hipoderme, modificando a aparência da pele. Nos homens, por outro lado, os septos fibrosos são menores e arranjados em planos oblíquos com pequenos lóbulos de gordura.

Alterações vasculares
Aqui, tem-se que a formação de fibrose e a proliferação de fibroblastos, quando contornam as células adiposas, levam à falência circulatória e à insuficiência metabólica tecidual.
Como resultado, e com o avanço desses processos, há a degeneração do tecido adiposo e a fibrose avançada nos tecidos próximos.
Inflamação reincidente
Sendo a mais aceita na literatura científica, a teoria da inflamação reincidente cita os fatores inflamatórios como responsáveis pelo desenvolvimento dos septos fibrosos.
Durante o período menstrual, o organismo feminino secreta metaloproteases para que ocorra o sangramento. As metaloproteases contêm a enzima gelatinase B, que desempenha importante função no processo inflamatório, e também atingem a malha dérmica no tecido conjuntivo e nos interpontos que formam o tecido adiposo.
Como resultado, há a ruptura das ligações terciárias das fibras de colágeno, resultando em um processo inflamatório crônico.
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Como avaliar o tipo de celulite?
A teoria da inflamação reincidente divide a afecção em dois tipos: fibrótica e inflamatória. Definir em qual estágio a celulite se encontra é o ponto de partida da prática estética, uma vez que elencar as condutas erradas compromete o tratamento e pode, ainda, piorar o quadro.
No entanto, o olhar clínico não basta para diferenciar se a celulite é inflamatória ou fibrótica. A principal forma de avaliação é a termografia infravermelha.
Por meio dela, determina-se em qual estágio a afecção se encontra, e a forma de avaliar é com base na distribuição de temperatura da superfície tegumentar: nos casos em que há uma diferença de 3-5°C entre a região com celulite e as áreas próximas, o quadro é inflamatório.

Porém, caso não tenha uma câmera termográfica disponível, sugiro que a afecção seja tratada, inicialmente, como inflamatória, porque aplicar recursos que buscam diminuir o processo fibrótico onde há inflamação pode acentuar ainda mais a condição.
Não confunda a afecção
Outro ponto que merece atenção na estética corporal é a confusão que há, muitas vezes, entre lipedema, linfedema e celulite. Avaliar de forma minuciosa é o ponto de partida para o sucesso do tratamento.
Lipedema
Nesta afecção há retenção hídrica, e o paciente costuma apresentar aumento de volume bilateral e simétrico dos membros inferiores, uma vez que ocorre deposição subcutânea de gordura. A influência genética é, de modo geral, a principal causa da afecção, mas também suspeita-se da associação com distúrbios metabólicos, inflamatórios e hormonais.
Linfedema
O linfedema refere-se ao excesso de líquido intersticial no espaço tecidual, sinal de insuficiência linfática. Para avaliar, é possível recorrer ao exame físico, atentando à presença de edema em qualquer segmento de corpo e, além disso, realizar uma inspeção palpatória nos centros linfonodais.
Plano de tratamento
Levar em conta as características fisiológicas do estágio em que a celulite se encontra é indispensável para definir quais condutas terapêuticas podem ser elencadas com segurança e eficácia clínica.
Celulite inflamatória
Este tipo de celulite é caracterizado por uma hipertrofia do tecido adiposo e pela presença de edema. Por isso, as condutas para tratamento que têm respaldo na literatura e que permeiam o mundo da eletroterapia, das terapias manuais, da cosmetologia e dos nutricosméticos são:
Eletroterapia
– Ultrassom pulsado 5%
ou
– Terapia combinada pulsada (ultrassom pulsado + corrente elétrica)
ou
– Fototerapia de baixa intensidade
Drenagem linfática manual, feita de forma rítmica, em direção aos sistemas linfáticos e em 45 mmHg
Nutricosméticos
– Cactinea
ou
– Chapéu-de-couro
ou
– Quercetina
ou
– Rutina
Cosméticos
– Cafeína
Celulite fibrótica
Quando há fibrose envolvida na patogênese da celulite, percebe-se diminuição de vascularização e produção excessiva de tecido. Logo, é preciso aquecer o tecido de forma controlada e, para isso, sugiro:
Eletroterapia
– Ultrassom contínuo em, no máximo, 1,5 W/cm²
ou
– Radiofrequência, sem ultrapassar os 37°C
ou
– Endermologia
Ao elencar a endermologia, lembre-se de aplicar o recurso em todos os sentidos da superfície corporal, uma vez que as fibras de colágeno têm caráter tridimensional.
Cosmetologia
– Ginkgo biloba
ou
– Ananas sativus
ou
– Cynara scolymus
Conclusão
Em síntese, raciocínio clínico deve ser a diretriz de qualquer tratamento estético. Porém, quando o assunto é celulite, as diferentes apresentações clínicas e condutas terapêuticas disponíveis exigem atenção redobrada por parte do profissional.