Se uma paciente entra pela porta da sua clínica em busca de um tratamento para estrias, provavelmente ela já esgotou todas as suas fichas buscando por tratamentos milagrosos na internet e está em busca de algo que realmente funciona, afinal você é um profissional de estética, não é?
Porém, mais do que uma marca na pele e mais do que o rompimento das fibras elásticas, as estrias afetam diretamente a autoestima das pessoas. O papel do profissional de estética é orientar e tratar da melhor maneira possível, usando as ferramentas que tem disponíveis, e não menos importante: alinhando sempre as expectativas do tratamento conforme a situação da pele do paciente! Vamos falar mais sobre isso no decorrer do artigo.
Nos próximos minutos, vamos discutir aqui pontos muito importantes para o tratamento de estrias, desde os fundamentos até os tratamentos, como, por exemplo:
- O que de fato são estrias cutâneas;
- Quais são os tipos de estrias e quais as suas diferenças;
- As três principais teorias para o desenvolvimento de estrias;
- Os 11 principais motivos que podem causar estrias;
- Sete tratamentos cientificamente comprovados para estrias;
- Milagres não existem quando o assunto é estrias;
- Prevenção = Hidratação;
E, por final, concluo dando três dicas fundamentais no tratamento e fidelização do seu paciente.
Bom, vamos ao que interessa:
Mas, o que realmente são estrias?
Não é uma descrição muito popular, mas na prática sabemos que estrias são muito mais complexas. Sua descrição histológica foi feita pela primeira vez em 1889, e até os dias de hoje continuam sendo um desafio em termos de avaliação e tratamento.
As mulheres são mais afetadas do que os homens, por estarem mais expostas aos fatores de desenvolvimento de estrias. As partes do corpo mais afetadas são o abdômen, mamas e coxas, e se apresentam de duas formas diferentes, rubras e albas. Essas lesões ocorrem principalmente na adolescência, gravidez e quando há um quadro de obesidade. A prevalência pode variar entre 40% e 90% nestes grupos.
Quais os tipos de estrias e quais as diferenças?
Existem dois tipos de estrias, as rubras e as albas. Elas são distintas, porém estão ligadas evolutivamente, ou seja, inicialmente as estrias cutâneas são rubras e posteriormente são albas.
1ª Fase: ESTRIA RUBRA
- Lesões lineares e avermelhadas;
- Edema entre os queratinócitos e na derme;
- Fibras colágenas e elásticas alteradas;
Observação: o tratamento SEMPRE vai ser mais eficaz se iniciado nesta fase.
2ª Fase: ESTRIA ALBA
- Lesões brancas, deprimidas e finamente enrugadas;
- Parecem semelhantes a cicatrizes;
- Atrofia epidérmica e diminuição da densidade do colágeno.
As três principais teorias para o desenvolvimento de estrias cutâneas
Existem inúmeras teorias para descrever a formação de estrias. Conceituo as três principais abaixo:
1. Alongamento mecânico
Ocorre dano nas fibras elásticas e colágenas devido à excessiva e repentina tração da pele, como por exemplo, a fase do estirão do crescimento na adolescência, fases mais tardias da gestação ou aumento de peso.
2. Teoria hormonal
Os hormônios adrenocorticotrófico e cortisol são descritos por ter atividade sobre os fibroblastos, conduzindo para um aumento do catabolismo da proteína e, assim, promovendo alterações nas fibras de colágeno e de elastina. Outros hormônios estão relacionados com o desenvolvimento de estrias, como os corticosteroides (17 cetosteroides) e a relaxina relacionada à gestação.
3. Genética
Alguns estudos relacionam o surgimento da estria cutânea diretamente com a genética. Pesquisadores extraíram RNA total da pele de indivíduos com e sem a lesão, e estudaram a expressão de genes para procolágeno tipo I e III, elastina, fibronectina e beta-actina. Os resultados elucidaram redução de genes codificadores de colágenos, elastina e fibronectina, além de uma acentuada alteração no metabolismo dos fibroblastos.
Dez fatores relacionados ao desenvolvimento de estrias cutâneas
Sete tratamentos cientificamente comprovados para estrias cutâneas
Os tratamentos para estrias cutâneas podem ser simploriamente descritos como técnicas que provocam um tipo de lesão controlada na pele, com a finalidade de gerar inicialmente uma inflamação local para posteriormente ter uma cicatrização eficiente, com aumento do número de fibroblastos e, consequentemente, fibras de colágeno.
Inúmeros são os recursos disponíveis para tal finalidade. Os ácidos são técnicas comuns na prática clínica, devido ao seu baixo custo em relação aos demais recursos e por apresentarem bons resultados. Os aparelhos de eletroterapia também trazem inúmeras pesquisas e bons resultados no quesito da geração de inflamação controlada e, consequentemente, aumentam o número de fibras de colágeno no local das estrias. Abaixo descrevo alguns dos principais recursos físicos e químicos comprovados cientificamente para o tratamento de estrias. Friso, ainda, que utilizei apenas de artigos atuais e com relativo fator de impacto para descrever a lista abaixo.
1. Tretinoína
A tretinoína está na classe dos retinoides. Atua por ligação a receptores nucleares específicos e, comprovadamente, influencia vários processos celulares, tais como: reparo do DNA, estímulo ao crescimento e diferenciação de queratinócitos, melanócitos e fibroblastos e, consequentemente, na síntese de colágeno.
2. Ácido glicólico
Classificado pela literatura como um alfa-hidroxiácido, há evidências do seu efeito no aumento da matriz extracelular, na melhora da qualidade das fibras elásticas e no aumento da densidade do colágeno dérmico.
3. Microagulhamento
A indução percutânea de colágeno (IPC), como foi denominada, teria efeitos benéficos na estrias justamente por promover a angiogênese, epitelização e proliferação de fibroblastos, seguidas da produção de colágeno.
4. Microdermoabrasão
É uma técnica de esfoliação não cirúrgica, e os estudos têm mostrado melhoras em estrias por aumentar colágeno do tipo I, principalmente nas albas.
5. Laser
Existem inúmeros lasers descritos na literatura por terem efeitos benéficos no tratamento de estrias. Seus efeitos estariam relacionados, em especial, à sua ação angiogênica (formação de vasos sanguíneos), incremento da atividade fibroblástica e colagenogênese (formação de novas fibras de colágeno).
6. Carboxiterapia
O CO² promove vasodilatação local, com consequente aumento do fluxo vascular, indução de angiogênese (formação de vasos sanguíneos) e aumento da pressão parcial de oxigênio (pO²).
7. Radiofrequência
A radiofrequência, em temperaturas mais elevadas, ativa o sistema circulatório, o metabolismo celular e, posteriormente, gera uma estimulação fibroblástica e, consequentemente, produção de colágeno e elastina.
Prevenção = hidratação
Apesar do consenso geral de que a hidratação adequada é fundamental para manter a integridade e função de barreira da pele, existe pouco na literatura científica sobre o uso de tais cremes e óleos na prevenção de estrias. No entanto, todos os profissionais, a partir de um raciocínio fisiológico, acreditam que uma pele hidratada tem mais resistência a rupturas, principalmente as estrias, cujo o principal agente causador é a tensão mecânica excessiva.
Não existe milagre quando o assunto é estrias
Atualmente existem inúmeros tratamentos disponíveis para estrias, com o apelo comercial de que, em poucas sessões, a lesão desaparecerá por completo. Seria bom se fosse verdade.
Segundo estudo publicado recentemente no Dermatologic Surgery, as expectativas em relação aos resultados no tratamento em estrias devem ser realistas, e a modalidade de tratamento ideal deve ser cuidadosamente selecionada para evitar qualquer exagero do problema ou complicações. As estratégias terapêuticas são numerosas e nenhuma modalidade tem sido muito mais consistente que as restantes.
Conclusão sobre o tratamento de estrias
As estrias são esteticamente desagradáveis, e podem gerar uma autoimagem negativa, trazendo consequentemente problemas psicológicos como baixa autoestima, depressão e ansiedade.
O tratamento de estrias tem se mostrado muito complexo na prática clínica, mesmo com as inúmeras opções terapêuticas. A avaliação completa do paciente com estria cutânea deve ser minuciosa e levar em consideração o estágio (rubra ou alba) e o tipo de pele do indivíduo. As expectativas devem ser realistas, e a modalidade de tratamento ideal deve ser cuidadosamente selecionada para evitar qualquer exagero do problema ou complicações.
Para o terapeuta ter sucesso no tratamento de estrias, friso que, além de ter um conhecimento prévio sobre a patologia e o recurso de tratamento que elencar, deve-se dominar protocolos que estimulem a formação de colágeno de qualidade e nível de pele.
Para finalizar: três simples dicas que são FUNDAMENTAIS para os resultados no tratamento e na fidelização dos pacientes
1º – Sempre alinhe as expectativas do paciente. Ou seja, avalie e seja realista quanto à melhora das estrias. Para ser sincero, além de ser uma atitude ética, valoriza o paciente e gera uma relação de confiança.
2º – Tenha domínio da técnica escolhida para tratar e saber combinar recursos. Parece óbvio, mas é fundamental que o terapeuta tenha o conhecimento detalhado de protocolos que ampliem e acelerem os resultados do paciente.
3º – Prescreva um bom home care para seu paciente. Sugiro ativos de dois cremes comprovados cientificamente que podem ser manipulados em qualquer farmácia e baixar o custo final do tratamento para o paciente:
- Creme I – Vitamina E, pantenol, ácido hialurônico, elastina e mentol
- O primeiro estudo traz bons resultados, no entanto, existe um erro metodológico: não há grupo placebo no artigo.
- Creme II – Centella asiática, vitamina E, colágeno hidrolisado e elastina
- A segunda investigação tem uma boa metodologia, e os autores referem que o mecanismo exato de ação foi identificado como a estimulação da atividade fibroblástica, e um efeito antagônico contra ação de glicocorticoides.
Espero que alguma destas dicas possa realmente ser útil nos seus tratamentos de estrias em pacientes daqui para frente.
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Um grande abraço e até breve.