Como em toda área da Saúde, é possível que intercorrências surjam na prática estética.

Para evitá-las, precisamos pensar clinicamente e seguir as evidências científicas. Por isso, eu trago alguns dos principais efeitos indesejados que podem ocorrer no nosso dia a dia, e dicas de como garantir uma prática clínica segura e eficaz.

Intercorrências na cosmetologia

Especialmente quando o assunto é estética facial, a cosmetologia é uma grande aliada da prática clínica. No entanto, as intercorrências também podem surgir quando elencamos cosméticos na pele dos pacientes.

Peeling químico

Os peelings químicos têm eficácia comprovada no tratamento de diversas disfunções – desde hiperpigmentação cutânea até acne. Apesar disso, não é incomum que a aplicação resulte em queimaduras. Mas por que isso acontece?

Destaco dois motivos principais:

1º Avaliação ineficaz: Antes de aplicar qualquer recurso na face, é preciso entender o tipo de pele do paciente. Variáveis como sensibilidade, resistência e fototipo direcionam o plano de tratamento, uma vez que definem indicações e contraindicações. Por isso, antes de optar pelo peeling químico, avalie a pele de quem está buscando intervenção estética. O protocolo de Fitzpatrick e o questionário de Baumann são, hoje, as melhores ferramentas para essa finalidade.

2º pH e concentrações incorretas: A avaliação do tipo de pele também é uma diretriz para definir o pH e a concentração do ácido. pH’s muito baixos e concentrações altas em peles sensíveis, com pouca resistência ou de determinados fototipos podem causar queimaduras.

Ativos alergênicos

Na cosmetologia, os aditivos de cor e odor são a causa nº 1 da dermatite de contato. Afinal, quando aplicamos recursos que retiram uma parte do estrato córneo, como o peeling físico, aumentamos a permeação transdérmica de ativos; consequentemente, a pele se torna mais suscetível às respostas alérgicas de fragrâncias e corantes.

O artigo “Allergic Contact Dermatitis Caused by Cosmetic Products” traz casos de dermatite de contato causada por produtos cosméticos. A figura 3, por exemplo, refere-se a um eczema de contato ocasionado por fragrâncias; na figura 2, temos eczema crônico provocado por cocamidopropil betaína presente em um cosmético. 

Casos de dermatite de contato.

Intercorrências na eletroterapia

A eletroterapia é uma das principais aliadas nos tratamentos estéticos, tanto em termos de facial quanto corporal. No entanto, para garantir a entrega de resultados, é muito importante estudar a relação entre os princípios físicos e as respostas fisiológicas para evitar ao máximo efeitos indesejados.

Associação de recursos inflamatórios

Ao tratar afecções como cicatrizes de acne, flacidez e estrias, promover um processo inflamatório é essencial para a entrega de resultados. Para isso, utiliza-se recursos como microagulhamento, microdermoabrasão e carboxiterapia. 

No entanto, é necessário estar atento à inflamação exacerbada decorrente da associação de recursos que têm o mesmo efeito no tegumento, já que pode levar a uma lesão descontrolada.

A dica que eu deixo é: nas semanas pós-procedimento inflamatório e antes de uma nova sessão, opte por recursos que promovem a regeneração tecidual, como a fototerapia. 

Remoção do estrato córneo

Tome cuidado com a aplicação de recursos que retiram parte do estrato córneo, como a microdermoabrasão e o microagulhamento.  

É claro que esse é um excelente meio de aumentar a permeação transdérmica de ativos, mas os microcanais que são abertos no procedimento facilitam a entrada de agentes patógenos, aumentando o risco de contaminação do tegumento e infecções locais. 

O estudo “Unusual Presentation of Tinea Corporis Associated With the Use of a Microneedling Device” aborda um caso de contaminação por Tinea corporis pós-microagulhamento, atingindo braços e pernas da paciente. De modo geral, o rompimento da epiderme facilitou a infecção.

Contaminação por Tinea corporis pós-microagulhamento.

 Lembre de revisar os seus aparelhos

Os aparelhos disponíveis na Estética devem receber atenção especial do profissional que busca a segurança clínica. 

Para evitar algumas intercorrências — como queimaduras, por exemplo — é fundamental organizar os processos da sua clínica a fim de incluir a revisão dos seus equipamentos, de acordo com a periodicidade recomendada. 

Já no caso de aluguel de equipamentos, é seu direito exigir o laudo de calibração. 

Nutricosméticos

A associação de nutricosméticos ao plano de tratamento é capaz de potencializar a entrega de resultados. Porém, antes de optar por qualquer suplementação, deve-se avaliar o perfil do paciente para definir indicações e contraindicações.

Como um exemplo de possível complicação, eu trago a reportagem “Como um suplemento alimentar me colocou na fila do transplante de fígado”. Resumidamente, a epigalocatequina-3-galato presente no chá-verde pode ser prejudicial em alguns perfis de pacientes; neste caso, o suplemento levou a uma lesão hepática. 

Além disso, quando nos referimos ao uso da Camellia sinensis, é essencial atentar ao consumo por pacientes metabolizadores lentos de cafeína, que, consequentemente, têm maior risco de apresentar reações adversas com a suplementação. 

Raciocínio clínico é probabilidade!

Estamos todos suscetíveis a intercorrências na Estética. Mesmo seguindo uma rotina de procedimentos em prol da segurança do paciente, precisamos entender que nada que se refere ao organismo humano é exato.

Assim, além de acompanhar as evidências acerca dos procedimentos (especialmente os mais recentes), considero muito importante ter uma rede de relacionamento com profissionais de áreas afins, com os quais você pode trocar ideias e construir uma visão integral sobre o paciente.

Se você quer fazer parte de um grupo totalmente voltado à Estética Científica, deixo aqui o link do nosso grupo de estudos no WhatsApp: 

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