Recentemente, durante a palestra no II Congresso Estética em São Paulo, proferi a seguinte frase:

“Não precisamos de mais tecnologias na área de cosmetologia e eletroterapia, e sim de mais estudos científicos acerca dos recursos que já existem.”

Essa frase gerou um certo debate no meio acadêmico e clínico. Como professor, sinceramente, fiquei feliz, pois creio que o conhecimento deve ir além da definição, classificação, descrição e estabelecimento de correlações dos fenômenos clínicos. Sendo assim, sigo a linha de que uma das minhas tarefas é explicitar as problemáticas e gerar trocas de conhecimento. Reafirmo, ainda, que essa troca de conhecimento deve ser encaminhada de modo que a dialética dos fenômenos seja explicada e entendida para além do senso comum, baseada em evidências cientificas, é claro.

Neste sentido, elenquei nesta semana um tema um tanto quanto polêmico para debatermos:

O que é melhor no tratamento de gordura localizada: criolipólise ou ultrassom (cavitação)?

A técnica de criolipólise tem sido amplamente divulgada nos últimos tempos. Como já descrevi em meu site (Clique aqui para ler o artigo sobre Criolipólise), a criolipólise baseia-se no fato de que, quando modulamos e controlamos a exposição do sistema tegumentar ao frio, pode ser possível danificar os adipócitos, evitando danos na epiderme e derme. A técnica estimula a apoptose do adipócito, e também um processo inflamatório controlado. Inicialmente, os macrófagos e outros fagócitos cercam e começam a digerir as células lipídicas como parte da resposta natural do organismo à lesão.

Já o ultrassom segue a premissa física de um aparelho descoberto pelo físico francês Pierre Curie de piezoeletricidade em 1877. Atualmente os equipamentos de onda sonora apresentam-se nos mais variados parâmetros, em altas e baixas frequências e potências. Consequentemente, podem acarretar diferentes efeitos no tecido a ser tratado. Com relação à sua aplicação para gordura corporal, sabe-se que baixas potências têm a capacidade de gerar lipólise, enquanto que altas potências promovem a destruição das células adipocitárias, a partir de uma cavitação instável e consequente rompimento da membrana do adipócito.

Ambos os recursos vêm sendo amplamente utilizados na prática clínica, e além dos diferentes mecanismos acima descritos para tratar as células adiposas, os aparelhos se diferem de forma muito significante em relação a custos e poder midiático. A grande pergunta dos profissionais clínicos e acadêmicos é se, em termos de resultados, essa diferença também se faz presente.

Recentemente um grupo de pesquisa da Universidade do Cairo publicou em uma importante revista chamada Australasian Journal of Dermatology um artigo original intitulado “Ultrasound cavitation versus cryolipolysis for non-invasive body contouring”

ARTIGO

Os autores avaliaram um total de 60 indivíduos, que foram divididos em três grupos de 20. O grupo-controle fazia apenas dieta alimentar (GRUPO C), e os demais grupos, ultrassom mais dieta (GRUPO A) e criolipólise mais dieta (GRUPO B).

ARTIGO2

Inicialmente, os resultados mostram que não existe diferença estatística entre os três grupos em termos de avaliação de peso corporal e IMC. Estes resultados reforçam a importância de uma avaliação correta também na prática clínica. Posteriormente, os resultados mostram que criolipólise + dieta e ultrassom + dieta são mais eficientes que apenas a dieta no que diz respeito à circunferência da cintura e prega cutânea supra-ilíaca.

Em termos numerais, os autores mostraram que neste modelo metodológico a utilização de cavitação reduziu a circunferência abdominal em cerca de 7,3 cm e a dobra cutânea em aproximadamente 5,58 mm. A criolipólise promoveu uma redução da circunferência abdominal de aproximadamente 6,75 cm, e a dobra cutânea em aproximadamente 5,3 mm. A dieta alimentar reduziu a circunferência abdominal em cerca de 3,2 cm, e reduziu as dobras cutâneas em cerca de 2,47 mm.

Penso que este estudo é de grande valia para nossa prática clínica e acadêmica, e reflete ainda mais a importância de mais investigações na área!

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